quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A calçinha da Gisele

O que significa isso?
Você não significa nada!
Ter dinheiro não significa ser rico!
Significa: a mesma palavra, em conotações diferentes.
A carga representativa que atrelamos às palavras, símbolos e signos nos atropela diariamente. Está presente em tudo que vemos, ouvimos, falamos, ou na pior da hipóteses: naquilo que não foi dito.
Outro dia deparei-me com a notícia de que a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República enviou ofício ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pedindo a suspensão de uma campanha da fabricante de roupas íntimas Hope, estrelada pela modelo Gisele Bündchen.
Na campanha publicitária em questão, a Top ensina a forma correta de se contar ao marido que estourou o limite do cartão de crédito ou bateu o carro. Mas o diabo está nos detalhes: primeiro a moça aparece totalmente vestida (o que lhe rende um sonoro ERRADO), para em seguida aparecer apenas de calcinha e sutiã.
Segundo a secretaria a peça publicitária deprecia a imagem feminina, atrelando-a ao estereótipo de objeto sexual.
Bom, se por um lado, aparentemente, a postura ministerial “parece” correta, por outro é no mínimo contraditória.
Sabe por quê?
Paradinha!
Vamos agora falar de um outro assunto que pode até parecer não ter relação com este anterior: A marcha das Vadias.
Em janeiro de 2011, ocorreram diversos casos de abuso sexual contra mulheres na Universidade de Toronto, no Canadá. Nesta ocasião, o policial Michael Sanguinetti fez uma observação totalmente estapafúrdia: "as mulheres devem evitar se vestirem como putas, para não serem vítimas".
Foi o bastante para dar inicio à Marcha das Vadias ou Marcha das Vagabundas (em inglês: slutwalk). No 3 de abril de 2011, mais de 3 mil pessoas tomaram as ruas de Toronto, no Canadá e desde então o levante tornou-se um movimento internacional realizado por diversas pessoas em todo o mundo. São manifestantes protestando contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram por isso devido as suas vestimentas. Trocando em miúdos: as mulheres teriam pedido para serem estupradas por utilizarem roupas menos recatadas. Durante a marcha, as mulheres usam roupas provocantes: como blusinhas transparentes, lingerie, saias, salto alto ou apenas o sutiã. O evento já se multiplicou mundo afora: Los Angeles, Chicago, Buenos Aires e Amsterdã. No Brasil já ocorreu São Paulo, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília.
Voltando ao caso da lingerie.
Em várias partes do mundo, nós mulheres estamos nas ruas para garantir os direitos femininos, expressos por uma mínima evidência, um código social: a roupa.
Como então vislumbramos a postura ministerial como algo imbuído do significado ao qual se propõe: a defesa dos direitos da mulher?
Até que ponto o comercial da Hope realmente objetiva a mulher como elemento meramente sexual ou mostra a mulher como um ser ciente de suas possibilidades, opções e escolhas?
De mais a mais, a questão também perpassa e levanta um outro ponto: a intimidade conjugal.
Como o aparato governamental pode interferir na relação cotidiana homem-mulher?
É claro que o foco da secretaria deveria ser garantir direitos, mas não esquecendo que qualquer cidadão, independentemente do sexo, religião, raça, classe social ou concepção política, tem direito à privacidade.
Assim sendo, por que não focar seus esforços em pontos realmente relevantes para as mulheres?
· As mulheres lideram as estatísticas dos diagnósticos de hipertensão no Brasil.
· Segundo o INCA, o câncer de mama é responsável por 6,6% de todas as mortes por câncer em nosso país.
· 40% das mulheres dos países em desenvolvimento são anêmicas e encontram-se abaixo do peso.
· 4 mulheres são espancadas a cada minuto no Brasil.
· 10% das mulheres no mundo são alvo de estupro.
· Segundo o IBGE (pesquisas de 2003 e 2008), as mulheres recebem 70% do salário dos homens em todas as regiões do País.
· A cada dois minutos 5 mulheres são estupradas no Brasil.
· Entre 1996 e 2006, o percentual de mulheres responsáveis pelos domicílios aumentou de 10,3 milhões para 18,5 milhões.
O que acaba parecendo é que a “calcinha” da Gisele serviu apenas de plataforma de mera politicagem ou, em uma remota hipótese, de lobby promocional da lingerie.
O que significa tudo isso?
A consciência é sua, a interpretação também...

Um comentário:

ELANE, Mulher de fases! disse...

CONCORDO COM VC BÁRBARA!!ARRASOUU!!

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