sábado, 10 de julho de 2010

Os irritantes diálogos vazios e o meio ambiente

Antes que me chamem de capitalista, reacionária ou mercenária, vamos deixar bem claro que o ponto aqui não é defender este ou aquele lado. O ponto é sim mostrar como as pessoas manipuladoras, são ao mesmo tempo mascaradas e transparentes.
Então vamos lá.
Não sei se você leitor já ouviu falar sobre a construção de um novo porto na cidade de Ilhéus, Bahia. Pois bem, o novo porto, que recebeu o nome de Porto Sul, servirá para escoar a produção de minério extraído pela empresa Bahia Mineração.
Projeto elaborado, EIA – RIMA concluído e apresentado, e nem um tijolo foi colocado.
Além da burocracia e dos cuidados que cercam uma obra deste porte, existem ainda outros entraves.
O principal diz respeito a uma corrente de “ambientalistas” contrária à construção.
Bom, bom, bom.
Era aqui que eu queria chegar.
Sempre assisto debates, compareço a reuniões e audiências em que tais oponentes se manifestam. E sempre acabo profundamente irritada quando escuto os argumentos explicitados por eles quando se posicionam contra o Porto Sul.
E vamos agora por os pingos nos Is.
Por que são contra o Porto Sul?
Porque vai degradar o meio ambiente, destruir a mata atlântica, violentar a APA, extinguir animais...
Tudo isso é verdade.
Antes de continuarmos quero esclarecer umas coisinhas sobre Ilhéus.
Ilhéus tornou-se mundialmente conhecida por ser a maior produtora de cacau, o verdadeiro El Dourado do “fruto de ouro”. Em 1920, Ilhéus fervilhava de pessoas, de dinheiro, de luxo e riqueza. Havia cabarés, clubes noturnos, cassinos. A cidade era movimentada e é esta época narrada por Jorge Amado em seus romances. Uma época de muito dinheiro e de muito luxo. O grande fluxo financeiro originado pela produção e exportação de cacau deu origem a peculiaridades no desenvolvimento da Região da Costa do Cacau, região geoestratégica da Bahia. A cidade chegou a ser a maior arrecadadora de ICMS do estado da Bahia.
Graças à monocultura do cacau, a região esbanjou riqueza por muitas décadas.
Porém, no final dos anos 80, os agricultores do setor, que já enfrentavam a queda dos preços internacionais do cacau, se depararam com um novo inimigo: a praga da vassoura-de-bruxa. Causada por um fungo, esta praga arrasou boa parte das plantações locais - concentradas no sul do estado, incluindo aí a cidade de Ilhéus. A praga tirou do Brasil o título de maior produtor de cacau do mundo. O país figura atualmente entre a quarta e a quinta posição. A crise foi tão séria que a produção do estado, que se aproximou das 400 mil toneladas em meados dos anos 80, caiu para cerca de 123 mil toneladas entre 1999 e 2000. Na safra de 2005/2006, a produção foi de aproximadamente 172 mil toneladas. Desemprego, pobreza, êxodo rural, favelização, aumento da violência. Isso era só o começo.
Foram décadas assistindo à vassoura-de-bruxa contagiar as lavouras, ao ritmo do sobe e desce das cotações internacionais. Famílias empobreceram e produtores se desesperaram com o rápido avanço da doença. Uma verdadeira catástrofe!
Agora vamos lá.
Quem divulga o Projeto Porto Sul, tenta transmitir a noção de quantos empregos serão gerados, de como pode proporcionar crescimento econômico à cidade, região e estado. Coisas que fazem brilhar os olhos de quem passa fome e engrossa a fila dos desempregados.
Em contrapartida, como os tais “ambientalistas” (depois explico estas aspas) pretendem mostrar alternativas para o desenvolvimento econômico?
Resposta:
-Turismo
-Pesca
-Artesanato
Agora vem cá, depois de mais de 20 anos da crise do cacau, o que foi que o turismo fez por Ilhéus?
N-A-D-A
Sabe por quê?
Porque o turismo é sazonal, só restrito ao verão e às férias.
Como uma cidade pode viver disso?
Ah, temos um maravilhoso Centro de Convenções, verdade!
Mas que realiza mais eventos evangélicos do que outra coisa. Nada contra os evangélicos, mas sim contra a falta de diversidade de eventos.
Ah temos um Teatro Municipal histórico, lindo, verdade!
Mas apenas artistas locais e regionais se apresentam. Uma vez ou outra é que tem algo diferente. Outra vez esclareço: nada contra os artistas locais e sim contra a falta de apoio e patrocínio às iniciativas artísticas em nossa região.
Ah, mas tem a Casa de Jorge Amado, o Vesúvio e o Bataclan, verdade!
Mas em duas horas se vê tudo isso, nos mínimos detalhes.
Bom, então tem as praias. Ilhéus tem praias maravilhosas.
Mas você sabia que o Brasil tem mais de 9 mil km de litoral?
Então não vejo tanta vantagem nisso.
E o que o turista faz à noite? Essa é a verdadeira pergunta que não quer calar.
Ou ele vai dormir ou resta apenas umas poucas pizzarias, sorveterias, um Bob´s, um cinema ou 1 casa noturna: Mar Aberto.
Eu sinceramente fico penalizada com a falta de opção de atividade noturna, principalmente para a juventude. Sem poder escolher muito, acabam restritos ao trio Cinema-Praçinha-Mar Aberto.
Além disso, tem outros fatores. O maior deles é justamente o emprego.
Muitos hoteleiros, donos de restaurantes e cabanas de praia, contratam gente só na temporada. Acabou o verão, acabou o emprego!
Depois disso tudo, não sei como o turismo pode ser uma alternativa viável, capaz de sustentar economicamente uma cidade com mais de 200 mil habitantes.
Agora tem a pesca.
Lá os pescadores são organizados em colônias, já até elegeram vereador.
Existem investimentos federais e estaduais no setor, mas isso também não isenta esse tipo de atividade econômica de possíveis impactos ambientais, em especial a pesca predatória.
Ah, ainda tem o artesanato. Nem vou falar muito disso, pois qualquer pessoa sabe que nesta área quem ganha é o atravessador. O produtor sempre é explorado ao extremo.
Tudo esclarecido fica a questão: Então como o ilheense sobrevive?
Sobrevive de teimoso. De trabalhador e batalhador que é.
O caminho não é preservar o meio ambiente e matar as criançinhas de fome.
Gente, acorda, existe uma coisa chamada S-U-S-T-E-N-T-A-B-I-L-I-D-A-D-E.
Sim, preservar e utilizar.
Você acha que um agricultor que vivia do cacau e agora não tem nada, vai preservar a mata?
Claro que não!
O cacau preservou a mata porque é um tipo de planta que precisava de sombra para se desenvolver.
Sim, ele, o agricultor, avançou sobre a mata para manter sua família.
É aí que são derrubados os Jequitibás centenários, os restinhos de madeira nobre e de Mata Atlântica.
Sim, porque entre a nobreza da madeira e a barriga vazia, o estômago é quem ronca mais alto.
A história e o bioma se transformam em feijão com arroz.
Ah, mas tem o IBAMA fiscalizando.
O IBAMA coitado é outro que precisa de investimento. Falta material, falta veículo e principalmente, falta gente!
Será que ninguém lá em Brasília olha pelo pobre IBAMA?
Súplicas à parte, voltemos ao nosso colóquio.
E agora o crucial: As aspas!
Falei que ia explicar e vou.
Tenho muito respeito por quem defende a natureza, mas quem defende e vive essa defesa.
Explico.
Se eu defendo a natureza, eu:
• Reciclo meu lixo;
• Me preocupo com a emissão de gás carbônico do meu automóvel;
• Uso lâmpadas econômicas;
• Imprimo os documentos usando os dois lados do papel, sempre utilizando papel reciclado;
• Prefiro ir a pé ou de bicicleta em todos os percursos possíveis;
• Cultivo plantas;
• Tomo menos leite e como menos carne vermelha (sim porque o rebanho bovino também é responsável por uma expressiva emissão de gases que provocam o efeito estufa);
• Uso absorventes internos (eles são feitos de algodão, portanto se degradam com maior facilidade, ao contrário dos antigos Modess);
• Não como nenhum tipo de animal silvestre (Tatu, Paca, Tartaruga...);
• Uso sacola retornáveis (Eco Bags) em supermercados, feiras...
• Não jogo lixo na rua, praia ou rios;
• Não jogo óleo de cozinha pelo ralo da pia;
• Ensino as crianças a importância de tudo isso, fazendo com que estas atitudes se integrem em suas vidas, como algo rotineiro e simples.
E assim, ao invés de deixarmos um mundo melhor para os nossos filhos, deixaremos filhos melhores para o mundo.
Pratico tudo isso que escrevi e ainda assim estou longe de me considerar ambientalista.
Então ficam as duas últimas perguntas desse texto:

Será que todas as pessoas que se auto-intitulam defensoras do meio ambiente fazem realmente coisas desse tipo?

Ou será que por trás do rótulo ambientalista se escondem vis interesses puramente capitalistas?



"O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos."

Albert Schweitzer - teólogo, músico, filósofo e médico alsaciano



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