segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sua obra sem dor de cabeça


Com toda a certeza você já ouviu histórias ou conhece alguém que teve grandes dores de cabeça ao realizar uma construção ou reforma. É uma parede que ficou torta, uma coluna no lugar errado, janelas fora de dimensão e mal posicionadas, uma caixa d´água em local inadequado, uma sala muito pequena para moveis muito grandes. Tudo isso é reflexo da falta de planejamento, falta de orientação profissional, falta de assistência técnica especializada. O que muitas vezes pode acabar comprometendo até mesmo a segurança e integridade física dos proprietários.

“O principal risco que se corre é com relação à segurança da obra e dos seus futuros ocupantes, mas também existe o risco de não se fazer um bom planejamento financeiro e os recursos acabarem antes do final da obra. Além destes riscos, o contratante que executar uma obra sem o acompanhamento dos profissionais habilitados para tal estará sujeito a multas aplicadas pelo Crea e ao embargo por parte da Prefeitura” explica o engenheiro civil Geraldo Barreto.

Mas o que fazer para evitar estes transtornos?

A primeira medida é escolher os profissionais. Para começar, troque ideias com amigos que já recorreram a arquitetos, engenheiros e decoradores. Outra dica é consultar revistas especializadas e visitar mostras de decoração. Definidos os nomes, marque as entrevistas. Peça para ver os portfólios, visite obras prontas e, se possível, converse com os moradores. Esta é uma forma de checar a idoneidade dos profissionais. Não há cartão de visitas melhor do que os clientes.

Tão importante quanto encontrar alguém íntegro e competente é descobrir se há a afinidade estética. Não adianta buscar um projeto neoclássico em um escritório identificado com o moderno. Tudo tem que trazer embutida a ideia de conforto e harmonia.

Para ter a casa, loja ou escritório que tanto deseja, você precisará falar de suas preferências, gostos e restrições. Um bom projeto é fruto de muito diálogo e troca de idéias.

“Cada projeto é como um vestido de grife, feito sob medida para o cliente e atendendo aos desejos e sonhos dele. O arquiteto deve traduzir esse sonho. É uma trabalho de arte e sensibilidade, porém com aplicação do conhecimento técnico e respeito às normas e leis de cada local.” esclarece a arquiteta Taty Bonfim.


Muitas pessoas ainda confundem as funções e competências de cada profissional. Por isso é importante esclarecermos onde cada um atua, o que faz e como.

O arquiteto projeta casas e conduz reformas, além de cuidar da parte de interiores. Eles são especialistas em otimizar espaços e evitar desperdício de tempo e de material. Antes de contratá-lo, recomenda-se verificar se está cadastrado no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA).

A função do decorador é planejar espaços internos, encontrar a melhor solução estética, definir acabamentos e mobiliário. Com a ajuda deste profissional, você poupa o tempo que gastaria procurando as peças e evita as compras equivocadas. Ao menos na teoria, ele não tem habilitação para derrubar paredes ou mexer na parte hidráulica, mesmo que a experiência o autorize. Nesses casos, é fundamental contar com a assessoria de um arquiteto.


Já o engenheiro é responsável pelo projeto e acompanhamento de todas as etapas de uma construção e/ou reforma. É ele que estuda as características dos materiais, do solo, incidência do vento, destino (ou ocupação) da construção. Com base nesses dados, desenvolve o projeto, dimensionando e especificando as estruturas, as redes de instalações elétricas e hidro-sanitárias, bem como os materiais a serem utilizados. Também é responsável pela chefia das equipes, supervisionando os prazos, os custos e o cumprimento das normas de segurança, saúde e meio ambiente, garantindo a segurança da edificação, exigindo que os materiais empregados na obra estejam de acordo com as normas técnicas em vigor.

“A orientação do engenheiro é importante e fundamental para que sejam seguidas as Normas Técnicas dos diversos serviços afeitos às obras por ele projetadas e/ou executadas, o que, gera mais economia e segurança para os proprietários e para a população em geral.” explica o engenheiro civil Geraldo Barreto.


Outra figura muito importante é o Engenheiro de Cálculo. É ele quem projeta toda a estrutura de sustentação do imóvel, desde a fundação até toda a infra-estrutura, incluindo vigas, reservatórios, pilares e lajes. Ele também é o responsável pelos cálculos de projetos especiais, de uma certa grandeza como: edifícios, prédios, pontes, viadutos, shoppings. Fora isso, em muitos casos, é chamado para cálculo de uma peça a ser montada com dimensões não convencionais. 
“O trabalho de engenheiro de cálculo garante segurança e economia ao cliente.” frisa Valter Costa, engenheiro de cálculo.

Além disso, é imprescindível a parceria entre todos os profissionais envolvidos.

“O projeto arquitetônico deve ser compatibilizado com os projetos estrutural, elétrico e hidrossanitario. Por isso é importante a sintonia entre engenheiro e arquiteto, para o bom resultado da obra.” frisa Taty Bonfim.

Para muitos pode parecer bobagem contratar um arquiteto ou engenheiro para realizar uma reforma ou construção. Mas quem pensa assim está redondamente enganado. A falta de orientação pode acarretar graves consequências.

“Na falta de um planejamento correto pode acontecer da cama não passar pela porta, ou não caber no quarto, por exemplo. Ou mesmo problemas graves estruturais, como a derrubada de uma parede que apoiava a laje e esta vir a desmoronar, muitas vezes causando mortes.” explica Taty Bonfim.

“Há algum tempo atrás, na cidade de Poções, sudoeste da Bahia, um prédio de três pavimentos, projetado por um arquiteto de Vitória da Conquista, cuja obra estava sendo executada sem o acompanhamento de um engenheiro, ruiu e o proprietário ficou com um enorme prejuízo financeiro.” conta Geraldo Barreto.

Mas como pagar estes profissionais? 

Os preços cobrados variam muito - podem ser contabilizados por metro quadrado ou hora técnica, por exemplo. Em geral, um projeto assinado por estrelas da decoração e da arquitetura tende a custar mais do que um trabalho executado por profissionais menos conhecidos ou recém-formados. É que nessa balança pesam a fama, a experiência e os custos do escritório. Evite surpresas solicitando previamente uma tabela de honorários do profissional. Para facilitar, associações como ABD (Associação Brasileira de Designers de Interiores), AsBEA (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura) e o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) oferecem tabelas e fórmulas para nortear a cobrança, mas não há lei ou determinação que obriguem os profissionais a segui-las. A tabela funciona como referência porém, não é obrigatória.

“Em Ilhéus e Região nós temos uma Associação de Engenheiros e Arquitetos, a ARENA, que possui uma tabela de referência. Existe um índice por metro quadrado que varia de acordo com o nível de detalhamento exigido para cada tipo de serviço. Esse valor deve ser discutido no inicio da contratação de acordo com a necessidade e grau de exigência do cliente.” esclarece Taty Bonfim.

A remuneração do arquiteto, engenheiro e decorador, representa uma parte das despesas que você terá ao construir, reformar e decorar sua casa. Deixe claro desde o início quanto pretende gastar no total, somando projeto e execução. Só assim o profissional saberá avaliar quanto cobrar e também que tipo de obra é possível realizar com o orçamento disponível.


Como toda relação comercial, o trato entre o cliente e o arquiteto, engenheiro ou decorador pode resultar em descontentamentos - ainda mais quando se leva em conta que um imóvel é um bem no qual as pessoas depositam grandes expectativas. Para evitar dores de cabeça, faça um contrato claro, com os direitos e deveres de cada parte e o detalhamento da tarefa a ser executada. É importante que o documento traga ainda os prazos de conclusão, o preço e a forma de pagamento (incluindo os serviços que serão cobrados à parte) e as consequências de uma eventual rescisão. 

Adotar uma postura informal com qualquer profissional pode acabar em problemas. Por falta de um documento, o cliente pode não ter como cobrar uma reparação, caso alguma coisa dê errado. Nenhum contrato, no entanto, é capaz de prever todas as questões que surgem no decorrer da obra. Para resolvê-las, recorra ao bom senso e ao diálogo. Uma dica preciosa para que tudo dê certo é conversar e acertar os ponteiros sempre que necessário.

Dentre os órgão reguladores destas profissões, cabe ao CREA a fiscalização da prestação dos serviços.

“O cliente tem a garantia da qualidade do serviço através da fiscalização do CREA”, afirma o engenheiro de cálculo Valter Costa.
Ele ainda nos explica o que é a chamada ART – Anotação de Responsabilidade Técnica:
“A ART é um tipo de relatório técnico onde se discrimina que tipo de trabalho está sendo executado, quais as características da obra e outras informações.”
É um documento de suma importância, uma espécie de contrato.

Outro cuidado que você que quer construir, reformar ou decorar deve ter é com a chamada Reserva Técnica. Esse é um assunto tabu neste mercado. Trata-se de uma comissão oferecida por lojistas e prestadores de serviços aos profissionais, que varia de 2 a 30% do montante gasto pelo cliente - o percentual mais comum é 10%. Por envolver valores, muitos profissionais preferem não revelar essa informação ao cliente. A falta de clareza gera conflitos, pois apesar de ser um procedimento legal, não deixa de ser uma forma de receber uma comissão extra, preterindo uma loja à outra, ou um fabricante a outro.

Levando em conta a importância do planejamento e acompanhamento profissional na hora de construir, entrou em vigor no dia 24 de junho, a Lei 11.88/09, uma iniciativa do governo federal que visa garantir às famílias com renda de até três salários mínimos assistência técnica gratuita, tanto para o projeto quanto para a construção de habitações de interesse social.

“Essa lei é maravilhosa, mas infelizmente as leis aqui no Brasil não são cumpridas. Aqui mesmo em Ilhéus, as discussões sobre ela ainda são muito poucas” declara Valter Costa, Engenheiro de Cálculo.

A execução desta lei garantirá a construção de cidades mais humanas, sustentáveis e planejadas. Resta apenas que os municípios e estados passem a implementá-la.

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