sexta-feira, 8 de março de 2013

Por entre cartões postais


Quem nunca viajou pelo Brasil dificilmente conhece as reais mazelas das nossas cidades.
Como não são poucas, escolhi uma cidade para falar.
Em primeiro lugar vamos falar de Salvador.
Sim, a primeira capital do Brasil.
Cidade histórica que deveria ter infraestrutura invejável.
Não é o que acontece.
Você não precisa andar muito. Basta uma visitinha rápida aos mais conhecidos cartões postais da cidade: Pelourinho, Mercado Modelo e Elevador Lacerda.
Pelourinho - Salvador
Se eu fosse falar da sujeira, seriam necessárias páginas e mais páginas. Então vamos passar aos outros pontos. 
No Pelourinho é espantosa a quantidade de imóveis antigos em ruínas. Um verdadeiro crime contra a história nacional. Sobradinhos aos pedaços. Na verdade o descaso com o Pelourinho e a indiferença política é geral! Por ignorância cultural ou interesses partidários, conluio e irresponsabilidade dos três poderes, o Brasil já perdeu parte considerável da sua primeira capital e da sua História. Mais de 100 casarões estão arruinados, alguns irrecuperáveis, dezenas estão escorados, e dezenas desabaram ou foram destruídos por incêndios nos últimos anos! Lastimável!
Além disso, é impossível ignorar o número assustador de mendigos e pedintes. Isso denota, no mínimo, falta de políticas de assistência social voltadas à população sem-teto, menores infratores e dependentes químicos
Mas vamos descer, para cidade baixa. E vamos de... Elevador Lacerda!
Elevador Lacerda - Mercado Modelo
Não se pode negar que a reforma pela qual passou o Elevador Lacerda foi pontual e realmente necessária. Mas fim de papo. Esqueceram de pensar em uma bilheteria descente. Dois funcionários ficam nas roletas de acesso recebendo dinheiro e passando o troco ali mesmo. Pior do que ônibus.
Há e por falar neles, tenho que dizer que pegar um ônibus em Salvador é simplesmente insólito. Além de sujos, não estão disponíveis em número suficiente, tem horários estranhos e rotas inexplicáveis. Ah e tem outra coisa, se você pensa que ir a algum lugar de táxi é melhor, com certeza este lugar não fica em Salvador. Nunca em minha vida estive em um local com uma concentração tão grande motoristas mal educados e golpistas, que até agora só perdem para os de Praga(na República Checa), porque estes te assaltam, literalmente a mão armada, dentro do táxi.
O Mercado Modelo, que deveria comercializar em grande parte produtos artesanais, está recheado de industrializados, fabricações em série dos mesmos objetos. Isso sem falar do Restaurante ou melhor, restaurantes do primeiro andar: garçonetes fantasiadas de baianas de acarajé se degladiam literalmente pelos clientes. Chega a ser assustador.
Sala de Embarque do Ferry Boat em Salvador
Fazer uma travessia tranquila de barco é sempre algo agradável. Mas se você vai de Ferry Boat para Salvador, essa viagem pode não ser tão tranquila assim. Começando pelas instalações das salas de embarque e dos terminais. Se fossem classificadas como péssimas ainda seriam um eufemismo. O serviço de bilheteria é terrível. As atendentes não utilizam o sistema informatizado para vender as passagens e por isso acabam perdendo um tempo precioso fazendo contas erradas, aumentando as filas e atrasando o embarque de quem está com pressa. As balsas muitas vezes não saem no horário previsto. O acesso dos passageiros às balsas é feito pela saída de emergência. Eu ainda não entendo porquê.
E pelo amor de Deus, por que as autoridades concedem alvarás de funcionamento para as verdadeiras espeluncas que se dizem lanchonetes e restaurantes, especialmente em locais públicos?
Não dá para entender!
Você, caro leitor(a), deve estar imaginando que odeio Salvador.
Não, não, não.
Eu amo Salvador e seu inebriante ar de cidade provinciana.
Mas o amor não pode ser permissivo. 
É necessário exigir dos governantes mais respeito com a cidade, mais cuidado com o nosso patrimônio histórico, mais zelo com a população e os visitantes.
Temos que expor as deficiências para estabelecer metas de melhoria, reformas, ajustes.
A mudança tem que vir do povo.
Temos que questionar, indagar e não aceitar passivamente as coisas do jeito que se encontram.
Temos que exigir a cidade cartão-postal, a cidade modelo, a cidade que desejamos.

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