domingo, 20 de outubro de 2013

Sociedade Deletéria

Cada vez que entro no Facebook me surpreendo com alguma coisa. 
Quem leu o post anterior sabe que já falei sobre isso...
Mas não pude deixar passar...
Ultimamente tenho me espantado em como a rede social  vem sendo usada.
Primeiro vamos falar de uma certa lista de redução de mesada por infrações cometidas pelos filhos. 
A tal relação continha itens como: Não colocar o cinto de segurança, não ir à escola, deixar a torneira aberta, matar a aula do inglês ou a natação e por aí vai...
A proposta do brilhante ser humano que criou isso, seria punir os filhos que fizessem tais coisas, descontando dinheiro da mesada. 
Vi estarrecida, centenas de pessoas adorando a tal lista. Comentando coisas como: "Excelente", "Vou adotar aqui em casa", Gostei muito...
Mas espera aí.
A primeira coisa que pensei foi: Onde é que está o juízo dessa gente?
Será que não é possível enxergar o absurdo disso?
Como é que pais e mães vão barganhar com os filhos coisas como: colocar ou não o cinto de segurança, ir ou não à escola, desligar ou não a torneira, almoçar ou não...?
Que loucura é essa?
Onde é que uma criança vai ter autonomia para escolher o que quer fazer em relação a sua segurança física, sua orientação intelectual?
Se os pequenos podem se governar, para que então precisam de pais?
Francamente, onde fica o respeito aos pais, a referência familiar, a estrutura e o papel social da família?
Será que estão reduzidos aos conceitos capitalistas do lucro ou prejuízo?
Triste, muito triste adotar com crianças a máxima: Eles só aprendem quando sentem no bolso. 
Afinal, são crianças ou criminosos de colarinho branco?
E a coisa fica pior ainda quando encontramos milhares de comentários repletos de elogios às tais técnicas.
Sem dúvida alguma, isso é um retrato da total destruição que a estrutura familiar vem enfrentando nas últimas décadas.
Mas as surpresas do Facebook não acabam aqui.
Alguns dias depois, entro e encontro um post de uma amiga que reproduzia um texto, de uma criatura que não vou mencionar nome ou outros detalhes, que valendo-se de uma formação superior e experiência profissional, transmitia aos internautas suas ideias sobre a tragédia ocorrida em Salvador, em que uma médica matou dois irmãos num acidente de trânsito. 
Li todo o texto, muito bem escrito, com palavras escolhidas e parágrafos bem estruturados. Resumindo, o autor fala um pouco sobre a dor da família que perdeu os dois jovens, assim meio por cima, como algo realmente terrível. Mas o objetivo do texto não era esse. Era despertar no público a simpatia pela médica causadora do acidente. 
Com muita condescendência, o texto discorria sobre estruturas psicológicas coletivas, perdão, desequilíbrio emocional, Deus, não julgamento e tal, tal, tal.... 
E perguntava ao leitor: E se fosse sua mãe?
Isso mesmo, perguntava ao leitor o que aconteceria se fosse sua mãe quem tivesse provocado toda essa tragédia.
Fiquei pasma.
Como assim? Se fosse minha mãe?
Parei.
Não acreditei.
O que essa pessoa queria mesmo?
Defender e tomar uma posição em defesa da médica, apelando para conceitos como perdão, não julgar e tal?
Não julgo o acontecido.  
Realmente foi uma tragédia.
 Todos saíram perdendo pois não se enganem, a vida da médica também acabou.
O que mais me choca é que nesses momentos de crise, sempre surgem especialistas em tudo, discorrendo sobre esse mundo e o outro, expondo milhões de teorias e estudos, indo a programas de TV e rádio, dando entrevistas para revistas e sites da internet.
Para que?
Para convencer a população de que isso tá certo e aquilo errado?
Para lançar o nome na mídia e depois colher os louros por isso?
Ao final do texto, a pergunta que fiz foi a seguinte: E se fosse um pobre, motoboy assalariado que tivesse em um dia de fúria jogado sua moto contra o carro de uma médica bem de vida, como as coisas seriam?
Será que esse pobre encontraria defensores tão sagazes e altruístas que justificassem seu ato criminoso de maneira tão nobre?
A hipocrisia da sociedade me choca.
Centenas de pessoas compartilharam o texto, comentaram, se disseram emocionadas.
Mas quantas foram capazes de assumirem seus pensamentos reais, de não se deixarem levar por palavras bonitas?
Não sei.
Ah, e ainda tem mais uma.
Um usuário da rede social publicou uma montagem de fotos onde apareciam ativistas que resgataram os Beagles em São Roque(Sorocaba) e o caso das crianças indígenas enterradas vivas por seus próprios familiares no Mato Grosso. Duas coisas bem diferentes. Mas o tal usuário fazia uma comparação, dizendo que as pessoas simpatizavam com a causa dos cães e não se importavam com os índios. Ora, faça-me o favor. São duas causas distintas e nunca, nunca mesmo, uma vai desmerecer a outra. São duas lutas muito dignas. Mas o povo, alienado, parece louco para tornar suas quaisquer palavras vindas de um estranho que não conhecem, só porque soam politicamente corretas.
Sinto medo da forma simples como se manipulam as massas.
A palavra nunca deixou tão clara sua força, como vem fazendo através das redes sociais.
Arnold Toynbee



"Os componentes da sociedade não são os seres humanos, mas as relações que existem entre eles."
Arnold Toynbee
Economista Britânico




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