Dois a Dois

Esqueça todos os livros que você já leu de Nicholas Sparks.

O escritor, um dos maiores best-sellers do mundo, decidiu navegar em outras águas. Em vez do romance entre jovens apaixonados, fórmula que o consagrou, ele decidiu investir no drama familiar. Em Dois a Dois, livro lançado em 2017 aqui no Brasil, Sparks conta a história de Russell Green, um homem que vê sua vida desmoronar e que precisa assumir, sozinho, os cuidados de sua filha London, de apenas 5 anos.

A trama central, que inspirou o título do livro, é a ideia de que as pessoas não são feitas para percorrer caminhos sozinhas. O mundo é mais fácil quando você tem alguém do seu lado, seja sua família, um amigo ou filhos.

O livro com toda a certeza é uma história sobre paternidade e como um homem acaba descobrindo-se pai em meio a milhões de transformações em sua vida.

Com uma carreira bem-sucedida, uma linda esposa e uma adorável filha de 6 anos, Russell Green (Russ) tem uma vida de dar inveja. Romântico inveterado e otimista compulsivo, ele está tão certo de que essa paz reinará para sempre que não percebe quando a situação começa a sair dos trilhos.

Em questão de meses, Russ perde o emprego e a confiança da esposa, que se afasta dele e se vê obrigada a voltar a trabalhar. Precisando lutar para se adaptar a uma nova realidade, ele se desdobra para cuidar da filhinha, London, e começa a reinventar a vida profissional e afetiva – e a se abrir para antigas e novas emoções.

Lançando-se nesse universo desconhecido, Russ embarca com London numa jornada ao mesmo tempo assustadora e gratificante, que testará suas habilidades e seu equilíbrio emocional além do que ele poderia ter imaginado.

Conforme se dá conta de como sua vida mudou, Russ começa a entender que nem todas as mudanças, por mais difíceis que elas possam ser, são ruins. O tempo que ele passa com sua filha London começa a moldar sua própria personalidade. O amor entre pai e filha, a amizade de Russ com sua irmã Marge e o casamento dos Green foram as coisas que mais me tocaram em toda a história.

Já deu para perceber que o grande destaque nesse livro fica por conta do personagem central ser um homem, que possui característica bastante incomuns quando se fala em retratar uma personagem masculina. Sem voltas ou rodeios, Nicholas Sparks faz com que Russ deixe fluir seus medos, suas inseguranças e incertezas, colocando em xeque as convicções inabaláveis que ele possuía. Russ é um amor, romântico (ele adora o filme Uma Linda Mulher), um exemplo de marido, um irmão presente, um filho esforçado e um pai maravilhoso. Russ é o marido literário perfeito. A construção de uma personagem com esse viés é algo que poucos escritores conseguem atingir. Talvez porque a maioria dos romances foque sua narrativa em personagens femininas.

Quem acompanha a coluna de Literatura do Ideias Barbara´s com toda a certeza já leu sobre o meu personagem masculino preferido, Alan Sherwood, do livro O Sorriso Distante, da escritora Anita Brookner. Mas o Russ de Sparks com toda certeza está bem próximo desse patamar.

Se de um lado temos o sensível e romântico Russ, do outro temos a prática e interesseira Vivian, sua esposa, ou melhor ex. Aqui, abro um parentese para que o leitor não deixe de perceber a sutil e proposital coincidência da escolha do nome da esposa: Vivian era o nome da personagem interpretada por Julia Roberts no filme UMA LINDA MULHER.

Ao descrever o relacionamento dos dois, suas memórias e o fim do casamento, o autor permite que o leitor sinta o drama dos personagens, como se fosse algo capaz de acontecer a qualquer pessoa.

Como já é um pouco esperado em livros de Nicholas Sparks, sempre tem uma personagem que acaba morrendo, ou de uma doença incurável ou de forma violenta. em Dois a Dois a coisa não poderia ser diferente. Mas não vou revelar aqui quem será a bola da vez. Deixo isso para vocês leitores.

Na minha avaliação final, em defesa do livro, tenho que dizer que sua narrativa foi muito bem estruturada, porém, o excesso de flashbacks pode cansar um pouco o leitor. No final, a impressão que fica é que a história poderia ter sido desenvolvida em no máximo 300 páginas, não devendo ter se estendido por 500!

De toda forma, a leitura é muito válida por conta do personagem Russell Green.

Sobre o Autor

Nicholas Sparks é único autor contemporâneo a emplacar, por mais de um ano, um romance na lista dos mais vendidos. Seus romances estiverem 8 vezes no primeiro lugar da lista do New York Times. Seis de seus livros já se tornaram filmes, transformando-o em um dos autores com o maior número de adaptações para o cinema.