A esporotricose, uma micose que causa lesões na pele e é ocasionada pelo fungo Sporothrix brasiliensis, está se expandindo em vários estados brasileiros e também apresenta casos registrados em países vizinhos, como Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.
Classificada como uma zoonose, a doença é transmitida por gatos, que também pode infectar cachorros e humanos. Essa enfermidade permanece fora de controle, alertou o infectologista Flávio Telles, que coordena o Comitê de Micologia da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e é professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), durante o 23º Congresso Brasileiro de Infectologia realizado em Salvador.
Além do fungo Sporothrix brasiliensis, a esporotricose também é causada pelo Sporothrix schenckii, que é encontrado em plantas, elementos vegetais e até palhas. Flávio Telles ressaltou que atualmente, no Brasil, cerca de 90% dos casos são causados pelo Sporothrix brasiliensis e transmitidos por gatos, esclarecendo que cães e humanos não são vetores.
As principais formas clínicas da esporotricose
Esporotricose cutânea: é caracterizada por uma ou múltiplas lesões, localizadas principalmente nas mãos e braços;
Esporotricose linfocutânea: é a forma clínica mais frequente; são formados pequenos nódulos, localizados na camada da pele mais profunda, seguindo o trajeto do sistema linfático da região corporal afetada. A localização preferencial é nos membros;
Esporotricose extracutânea: acontece quando a doença se espalha para outros locais do corpo, como ossos, mucosas, entre outros, sem comprometimento da pele;
Esporotricose disseminada: acontece quando a doença se dissemina para outros locais do organismo, com comprometimento de vários órgãos e/ou sistemas (pulmão, ossos, fígado).
Sintomas da esporotricose
Os sintomas se manifestam após a exposição ao agente causador da infecção. A evolução da lesão inicial assemelha-se a uma picada de inseto e pode, em muitos casos, resultar em cura espontânea.
Em situações mais graves, como quando o fungo atinge os pulmões, podem surgir sintomas como tosse, dificuldade respiratória, dor ao respirar e febre. Na forma pulmonar, os sintomas podem ser semelhantes aos da tuberculose.
O fungo também pode afetar os ossos e articulações, manifestando-se com inchaço e dor durante os movimentos, lembrando uma artrite infecciosa.
As manifestações clínicas da doença variam dependendo do estado imunológico do indivíduo e da profundidade da lesão. O período de incubação varia amplamente, podendo ocorrer em qualquer lugar de uma semana a um mês, e em alguns casos, até seis meses após a exposição inicial ao fungo no organismo humano.
A incidência da doença chamou a atenção da comunidade científica devido ao aumento significativo de casos registrados no Brasil. Nos últimos 10 anos, houve um crescimento de 162% na taxa de infecção no estado do Rio de Janeiro, saltando de 579 casos em 2013 para 1.518 em 2022, conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Já em crianças com menos de 15 anos, é dito que os casos também aumentaram, saindo de 26 em 2013 para 196 em 2022, representando um aumento de 653%. A disparada já estava sendo classificada como 'evidente' em outros estados no final de maio, incluindo São Paulo e Minas Gerais.
Não há, no entanto, uma estimativa precisa desses números, uma vez que a esporotricose não é de notificação compulsória em nível nacional. Ou seja, os profissionais de saúde não são obrigados a notificar os casos diagnosticados às Secretarias de Saúde dos municípios, que posteriormente enviam os dados ao Ministério da Saúde. Essa obrigatoriedade de notificação está implementada apenas em alguns municípios e estados, como no caso do Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com o Paraguai.
Como prevenir a esporotricose?
O Ministério de Saúde destaca que a principal para prevenção e controle é evitar a exposição direta ao fungo. É crucial utilizar luvas e vestuário de mangas compridas ao lidar com materiais provenientes do solo e plantas, bem como usar calçados ao realizar tarefas rurais.
Quando alguém apresenta lesões suspeitas de esporotricose, é aconselhável buscar atendimento médico, de preferência de um dermatologista ou infectologista, para uma investigação, diagnóstico e tratamento adequados. Além disso, qualquer manipulação de animais doentes, seja por seus proprietários ou veterinários, deve ser realizada com a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI).
Os tutores não devem abandonar animais suspeitos de estarem infectados e, quando necessário, não descartar os corpos de animais mortos em lixo comum ou em terrenos baldios, pois isso pode manter a contaminação do solo. Em vez disso, é recomendável incinerar os corpos dos animais, visando reduzir a contaminação do ambiente e, assim, interromper o ciclo da doença.
Tratamento
O tratamento para esporotricose humana geralmente envolve o uso de antifúngicos. A escolha do medicamento e a duração do tratamento dependem da gravidade da infecção, do local do corpo afetado e do estado de saúde geral do paciente.
O médico pode prescrever medicamentos antifúngicos orais, como itraconazol, fluconazol ou terbinafina, para casos menos graves. Para casos mais severos ou disseminados, os medicamentos podem ser administrados por via intravenosa.
É fundamental seguir as orientações do médico e completar todo o curso do tratamento, mesmo que os sintomas melhorem antes.
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