terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Quem é a mãe?


Depois que os filhos nascem, começam também as festas infantis, programa constante na vida de pais e filhos.

Nessas tantas festinhas além de brincar muito com Pedro e Carolina, eu fico a observar o cenário com aquele olhar amoroso de educadora que não me abandona mesmo que eu tente!

Cada vez mais acredito que a maternidade se transformou em um setor terceirizado.
As mães não fazem mais o seu papel de mãe, delegam funções para Deus e o mundo (babás, avós, escolas em tempo integral, tias, cursos de diversas modalidades, folguistas e quem mais pintar...) e esquecem o real motivo de terem tido um filho.

São tantas cenas que vejo nessas festinhas que chego a ficar assustada. As tais babás fazem tudo: trocam fraldas, dão a comida, supervisionam as crianças, ficam com a criança no colo, colocam para dormir, olham, cuidam e participam de toda rotina dos pequenos enquanto os pais ficam fazendo o quê??

Sei lá, acho que atualmente essa história de ter uma babá já vem dentro do pacote de se ter um filho, as mães já começam a procurar a babá desde grávidas... e de repente não mais que de repente a tal babá começa a assumir todas as funções da mãe, culminando com o momento que a criança até chora quando a babá vai embora.

E afinal quem é a mãe?

Nas escolas é a mesma coisa, o número de babás é infinitamente maior que o número de mães. São elas que vestem o uniforme, preparam a merendeira, conferem a mochila, levam a criança até a professora e na saída são elas que estão a esperar o pequeno descer da sua aula. E as professoras já estão até acostumadas a tratar a maior parte dos assuntos do seu aluno com a tal babá, a represente da mãe que é quem participa ativamente dessa rotina escolar. Já com a mãe fica a função de pagar a mensalidade.

E nessas horas mais uma vez me pergunto: será que essa mãe nunca encontra um tempo para viver esse tempo tão mágico que são os primeiros anos de uma criança?

Nas pracinhas a cena se repete. Crianças alegres nos balanços, crianças correndo pela grama com outras crianças, crianças brincando nas gangorras animadamente, panelinhas espalhadas pelo chão, bolas rolando para cá e para lá, carrinhos e bonecas espalhados pelos bancos da praça, na sombrinha das árvores mais crianças se divertem com pazinhas e baldes coloridos. E uma tropa de moças ou senhoras, com as suas impecáveis roupas brancas, a vigiar toda essa criançada. Parecem anjos da guarda, mas são as babás.

Lembro que na época da licença maternidade do Pedro, eu me sentia um verdadeiro E.T. Eu a única mãe naquela pracinha.

Nos primeiros dias, achei que fosse o dia nublado, que quando estivesse sol eu fosse encontrar outras mães com os seus filhotes a tiracolo.

Mas que nada! Os dias vieram, passaram-se outros e eu continuava sendo a única.
Nas praias também chego a ficar impressionada.

Dia de sol, céu azul turquesa, mar cristalino, uma mamãe deitada pegando sol conversa com uma amiga da mesma idade, um papai lendo jornal tomando uma cerveja, uma piscininha com uma criança envolvida com os seus brinquedos e uma babá ao lado sentadinha (com aquela roupinha quente que deve fazer o maior calor!) entretendo alegremente a criança. Nem por um momento a mãe se levanta e se senta ao lado do filho, lança um olhar de carinho, pergunta se está tudo bem, se quer tomar uma água, se quer brincar no mar. A mãe continua sua conversa ativamente com a amiga como se estivesse em uma outra realidade particular. Sabe que até o protetor solar foi a babá que passou naquele frágil e pequenino corpinho de criança, em uma manhã de domingo?

Nos restaurantes o cenário se repete, nas viagens de família, nos shoppings, nos clubes e por aí vai seguindo a humanidade com passos fracos e distraídos.

Alguns anos depois os pais não reconhecerão mais aquela criança que um dia foi tão pequena que o seu corpinho cabia em um abraço.

Essa realidade me assusta, sempre fico pensando quais serão os caminhos da educação nos próximos anos, tendo em vista esse modelo de pais que estão sendo construídos por aí.

Mas fico feliz em saber que existe um outro lado: pais bacanas que participam, que cuidam, que brincam, que se envolvem, que fazem da missão de educar, uma missão amorosa. E essa presença não tem nada a ver com trabalhar fora ou não. Existem tantos pais e mães que ficam em casa em tempo integral e não tem noção do que acontece na vida dos seus filhos.

Enfim acredito que a escolha de se ter um filho tem tudo a ver com a certeza de se querer criar um filho. E criar significa educar, participar, zelar, cuidar, brincar, se envolver, discordar, ceder, sonhar junto, alimentar, dialogar, entender, observar, fazer, acreditar....verbos que parecem tão simples mas que tantos pais deixam esquecidos em um antigo dicionário guardado fora de si.

Como diria Içami Tiba: "Quem ama, educa!"


Roberta Paiva tem 33 anos, é carioca, jornalista por formação e educadora por vocação, mãe de Pedro (5 anos) e Carolina (3 anos). É autora do blog Vida de Pedro e Carolina
Sua crônica " Adaptação para mãe e filho" foi publicada na Revista Crescer em agosto de 2007. Colaborou também como pesquisadora no livro " Endereços Curiosos do Rio de Janeiro" do escritor Sergio Garcia, editora Panda Books.

Agora está aqui conosco no Ideias Barbara's


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