terça-feira, 25 de novembro de 2008

Aventurados desaventurados

O sobrenome não poderia ser mais sugestivo Baudelaire. Mas engana-se quem pensa que estou falando do grande poeta francês. O dilema aqui é tamanho família. Estou falando dos órfãos Baudelaire. E ao contrário do que pode parecer, eles não são filhos desconhecidos do famoso escritor. Violet, Klaus e Sunny são três irmãos que ficam órfãos após perderem seus pais em um misterioso incêndio. Bom, é assim que começam as confusões da série de livros Desventuras em Série, do autor americano Daniel Handler.

O enredo dos 13 volumes que compõem a série, tem inicio após o trágico incidente que deixa os três irmãos desamparado s. Mas não tão desamparados assim. Os pequenos Baudelaire herdaram uma fortuna, mas não podem tocá-la até que Violet, a mais velha dos três, atinja a maioridade. Até lá os três serão obrigados a conviver com os mais diversos tipos de tutores. E justamente por isso, passarão por apertos inacreditáveis: trabalhar numa serraria, passar o inverno tomando sopas geladas, morar num barracão repleto de caranguejos...e por aí vai. 

Tudo isso é café pequeno ante a implacável perseguição que sofrem. Isso mesmo, o dinheiro da herança desperta a ambição do maléfico e inescrupuloso Conde Olaf, um ator cafona, ex-rico, em decadência total, e pior: único parente consanguíneo das crianças. 

Para enfrentar todos estes percalços só com muita imaginação. E isso com certeza não falta. Cada criança tem habilidades especiais. Violet é capaz de arquitetar os planos mais mirabolantes, para sair das situações mais apertadas.  Klaus memoriza todas as informações que lê em livros. E Sunny, bom, ela é um caso realmente interessante: pode morder qualquer coisa!! Isso mesmo, qualquer coisa, do ferro à madeira, do titânio à pedras. 

Para tornar ainda mais interessante essa história, há um narrador chamado Lemony Snicket, que se auto proclama autor da narrativa, e logo entendemos que ele não de um alter ego do próprio Daniel Handler. Um artifício que garante um encantador jogo de cena. Logo no começo ele avisa que quem gosta de história felizes não deve ler sobre o Baudelaire. Impossível é seguir este conselho. 

Daniel Handler - o autor
A coleção Desventuras em Série é um exemplo do que pode haver de melhor na literatura infanto-juvenil: livros divertidos que estimulam a leitura de outros livros. 

Se no mundo imaginário dos órfãos Baudelaire nem tudo são flores, na vida rela também não é diferente. Lançado na mesma época em que um certo bruxinho já se encontrava no topo dos best-seller internacionais, a coleção teve seu brilho ofuscado pela varinha de Harry Potter. Ainda assim conseguiu vender milhões de exemplares em todo o mundo. 

Com muita perspicácia e espirito esportivo, Handler exalta o papel da inteligência dos irmãos em sua sobrevivência, e cuida também de expandir o vocabulário de seus leitores. Utiliza palavras difíceis, explica seus significados, e depois as reutiliza nos mais diversos contextos. Fã de citações e trocadilhos, ele não deixa passar despercebida suas alfinetadas e predileções. A mais óbvia delas, o sobrenome dos órfãos, é uma referência mais que direta a Charles Baudelaire. Todos os livros trazem dedicatórias a uma certa Beatrice – como a musa do poeta italiano Dante Alighieri. O banqueiro que cuida da fortuna das crianças é o senhor Poe, um tributo ao escritor americano Edgar Allan Poe. Mais a frente, quando Snicket, o narrador, explica o poder da hipnose dizendo que na Londres dos anos 20, uma pessoa semi-analfabeta se tornou grande escritora ao ouvir a palavra “Bloomsbury”- uma farpa diretamente endereçada ao grupo Bloomsbury, cujo o membro mais ilustre era a escritora Virginia Wolf, e não por acaso, também é o nome da editora que publica as aventuras de Harry Potter. 

Com uma mistura mais que diversificada de ingredientes, Desventuras em série chamou a atenção de Hollywood e, em 2004, transformou-se em filme. Isso mesmo! Os três primeiros volumes foram contados em um só filme. Além disso, o filme traz a brilhante atuação de nada mais, nada menos do que Jim Carrey no papel do Conde Olaf, Meryl Streep, como a tia Josephine e Jude Law como Lemony Snicket. E se me permitem mais uma ironia, o ator Timothy Spall (interpreta o de Rabicho, na saga de Harry Potter) faz o papel do banqueiro, sr. Poe. Vale apena conferir. 

Se ficou curioso (a) aqui vai um trechinho de um dos livros... 

“Se vocês se interessam por histórias com final feliz, é melhor ler algum outro livro. (…) Momentos felizes não são o que mais encontramos na vida dos três jovens Baudelaire, cuja história está aqui contada. Violet, Klaus e Sunny Baudelaire eram crianças inteligentes, encantadoras e desembaraçadas, com feições bonitas, mas com uma falta de sorte fora do comum, que atraía toda espécie de infortúnio, sofrimento e desespero. Lamento dizer isso a vocês, mas o enredo é assim. Fazer o quê?” 

Trecho de Mau Começo – Primeiro volume da série. 

Os Treze Livros: 

Mau Começo 

A Sala dos Répteis 

O Lago das Sanguessugas 

Serraria Baixo-Astral 

Inferno do Colégio Interno 

O Elevador Ersatz 

A Cidade Sinistra dos Corvos 

O Hospital Hostil 

O Espetáculo Carnívoro 

O Escorregador de Gelo 

A Gruta Gorgônea 

O Penúltimo Perigo 

O Fim

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