quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Visões do Brasil


Ser brasileiro é no mínimo o prenúncio de uma grande aventura. Os pessimistas que me desculpem, mas quem pensa o contrário realmente não conhece nosso país, nosso povo.
Como brasileira sempre tive curiosidade sobre a nossa história. E uma excelente maneira de entendermos o nosso Brasil é conversando com os mais velhos. Ouvir histórias da minha Bisa contando como era o centro da cidade do Rio de janeiro entre 1929 e 1940... Ouvir minha avó paterna narrando seus encontros com a caipora (isso mesmo, foram mais de dois!). Saber do meu tio-avô como era Ilhéus, o Pontal, a Avenida Soares Lopes... Verdadeiros tesouros!
Mas se ouvir histórias é bom, vivenciá-las é ainda melhor. São tantas as aventuras. Muitas estampam um nítido retrato da nossa pátria. Uma delas chama-se Censo. Ninguém deveria dizer que realmente conhece o Brasil se nunca trabalhou num Censo do IBGE.
Eu tive essa oportunidade. Vi de perto as grandes dicotomias da nação.
Foi assim que conheci seu José. Um brasileiro, morador da zona rural, 43 anos que mais pareciam 60, lavrador, analfabeto. Dos 21 filhos que tinha, sabia apenas quem era o mais velho e quem era o mais novo. Dos outros 19 não sabia nem a data de nascimento e ainda confundia os nomes. Apenas 4 filhos tinham certidão de nascimento. Os outros, nenhum documento.
Encontrei essa figura na beira de uma estradinha tentando, há quase duas horas, uma carona para a cidade mais próxima. Mesmo com todos esses poréns, ele respondeu compenetradamente a todas as perguntas. Ao final (e olha que demorou) ainda nos conseguiu a carona também (e olha que éramos 5). As pessoas que tive a oportunidade de recensear na zona rural foram todas muito prestativas, gentis e cordiais, mesmo quando impregnadas de uma simplicidade extrema. Muitas vezes nos presenteavam com frutas e sentiam-se profundamente ofendidas se recusássemos.
Mas conheci também um outro José, com 51 anos, dono de restaurante. Todo tirado a importante fazia questão de não receber o recenseador, recusando-se a dar as mais elementares informações. Depois de inúmeras tentativas, eu (que era supervisora) resolvi fazer-lhe uma visita pessoal. Depois de me fazer esperar mais de 40 minutos, me recebeu como que fazendo um favor. Realizei a entrevista. Quando chegou a hora de declarar sua renda, o homem empacou de novo. Não sei porque cargas d’água cismou que os dados seriam cruzados com as informações da Receita Federal. Levei quase meia hora para explicando que uma coisa nada tinha haver com a outra. Então ele declarou a renda e praticamente me colocou para fora. Foi ai que tive certeza: o homem deveria ser um sonegador do imposto de renda. Que coisa!
Essa vivência trouxe várias convicções:

1°Riqueza e erudição nada tem haver com caráter e hombridade.

2°Cordialidade e Educação realmente vêm de berço, mas ele ser de ouro não é prerrogativa para que você as possua.

3°Altruísmo e solidariedade: na grande maioria das vezes quem tem pouco doa mais.

4° Visual: as aparências não enganam. Elas atropelam seus julgamentos. Be careful!

5°Compreensão e aceitação: Sempre temos algo a aprender com o outro, ainda que você tenha convicção do contrário.

Outras experiências

Em uma outra vez, recebi um senhor irado por não ter sido recenseado. Agora imaginem: Ele havia abandonado a esposa, morava com outra mulher, foi recenseado no novo endereço mas, queria que o nome dele constasse no questionário referente às informações da ex-esposa. Mas sabem por quê? Na cabeça dele o juiz da vara civil iria aumentar o valor da pensão se soubesse que para o IBGE o sujeito não vivia mais sob o mesmo teto da esposa e dos filhos. Loucura!
E ainda teve o caso do doido. Um homem maluco que vivia sozinho e ao menor sinal da recenseadora atirava pedras na pobre coitada. Demorou um pouco mas encontramos a solução: mandamos um recenseador “guarda-roupa”. Nosso “doidinho” foi muito simpático.
Agora a grande odisséia foi recensear um acampamento sem terra. Realmente E-N-O-R-M-E! Um mutirão composto por recenseadores e supervisores, entrevistou em 3 dias, mais de 300 famílias.

Mas se a grande odisséia foi essa, o mais encantador desafio foi recensear a zona rural. Andar quilômetros para encontrar um habitante ou dois. Atravessar rios cruzando pontes improvisadas por troncos de árvores tombadas. Torrar no sol. Ouvi muitas histórias como a da recenseadora que encontrou uma jaguatirica e saiu correndo mato adentro; a do recenseador que resolveu descer uma serra de bicicleta e acabou no hospital; a de uma tribo de índios nunca antes recenseada. Coisas que você escuta, guarda, reconta. Imagens de um Brasil que muita gente nunca vai conhecer.

22 comentários:

Mundo de Ariel disse...

Q HISTÓRIA BARBARA,BÁRBARA!!
PARABÉNS, E VC ESTÁ CERTA,TEMOS 1 PAÍS DE GDES DIMENSÕES CM REALIDADES Q SE CONTRASTAM ...ADOREI SEU TEXTO, ESCREVES MUITO BEM!!PARABÉNS!!
ABÇO!!
ELANE

X disse...

Qtas histórias legais e mais do que isso, bem relatadas!!
Q homem grosso aquele do restaurante!!aouhaouha
Poxa o Brasil é lindo mesmo!!
Sou carioca mas moro 8 anos em Pernambuco, sei mais das histórias daqui do que as daí!! aouhaouh
Outro dia conto pra vc umas hist. pernambucanas no meu blog, blz?!
bjus

Anônimo disse...

Oi Barbara!
obrigada pela visita! acabei lendo só o post de baixo que me chamou a atenção, gosto desses parâmetro que podemos fazer com o passado e presente, virando projeções futuras.

bjos!

Giovana Vincenzi disse...

Sensacional!!! Já pensou em publicar um livro com todas as histórias???

O Brasil é um mundo mesmo...

Obrigada pelo carinho de sempre e pelo comentário no Barzinho!!

Beijão!!

mfc disse...

Termos a capacidade de ouvir os outros e retermos o que de importante nos transmitiram... é essencial.

Talitha Medeiros disse...

Tambem adorei seu blog as historias são bem legais.
O site é esse : http://www.mixpod.com/
Pode ter certeza que tambem voltarei mais vezes
Kiss

K disse...

O HOMEM MAIS INTELIGENTE QUE CONHECI MORAVA NA ZONA RURAL, ERA CEGO, CUIDAVA DO SEU SITIO MESMO ASSIM E OUVIA RÁDIO .
E NÃO ERA SÓ O MAIS INTELIGENTE, NUNCA FUI TÃO RECEBIDA EM UM LUGAR COMO FUI NA SUA CASA
GENTE DE VERDADE, NÉ
ADORO AS HISTÓRIAS DESSE NOSSO BRASIL

NOVIDADE: ESTOU CRIANDO UM BLOG SOBRE LIVROS, CULTURA, ARTE, MUSICA, CINEMA, LOGO ESTARÁ N AR, CONTO COM VC, E PRINCIPALMENTE COM SUAS CRITICAS E SUGESTÕES TÁ PROFESSORINHA DO CORAÇÃO BEIJOOO

Maria Madalena Schuck disse...

Maravilhoso seu blog, gostei demais dos textos, me fez relembrar muitas coisas de minha própria vida.
Parabéns, voltarei sempre que puder!
Muito grata por sua visita ao meu blog poético.
Um grande abraço e um ótimo final de semana.

Francisca disse...

Querida Bárbara, tudo bem?...
Na qualidade de educadora (Orientadora Educacional e Professora de História), fiquei deslumbrada lendo as observações que fizestes, quando sobre tuas vivencias no trabalho do Censo/IBGE. Diga-se de passagem, usas muito bem, uma das melhores vertentes que a minha área explora: a "História Oral". Em teus relatos, consegues transferir a emoção das experiencias vivenciadas junto aos entrevistados e, é mesmo assim que reconhecemos na história oral uma área de estudos com objeto próprio e capacidade (como fazem todas as disciplinas), de gerar no seu interior soluções teóricas para as questões surgidas na prática.
Adorei a tua percepção no relato sobre "... um outro José, com 51 anos, dono de restaurante. Todo tirado a importante...". Voce expos a veracidade do que sabemos encontrar em nosso país (omissão, calhar). veja bem, moro em Portugal mas, amo meu Brasil. Sinto saudades imensas deste povo que é mesmo assim: alguns refletos de emoção e simplicidade, outros com tamanha diferenciação.... Parabéns pela sinceridade tamanha nas palavras. Parabéns por fazer parte de uma classe que acredita que a " Cordialidade e Educação realmente vêm de berço! Enfim, completo meu recadinho expondo que precisamos mesmo de pessoas como voce para elevar e conservar as riquezas existentes em nosso Brasil! Obrigada por atuar com sabedoria, por tua capacidade de Alma! Beijinhos luso-brasileiro, fica bem!

Cynthia Saccoman disse...

Nossa...quantas histórias legais!!
Realmente nunca vamos conhecer nosso brasil todo.
Uma ótima semana
beijos

Anônimo disse...

Vim retribuir a visita, e me encantei com teu espaço, muito bom de ler suas postagens, virei sempre aki... parabéns !!!

beijos

Anônimo disse...

Olá Barbara, não vim aqui apenas retribuir seu comentário, vim também elogiar o seu blog, que tem ua visão independente e diferente de tudo o que já vi. Você conseguiu se expressar a favor do nosso país sem parecer nacionalista, apontando erros e vantagens de ser brasileiro. Parabéns, continuarei lhe prestigiando.

Obrigado por sua visita no temporário.

Abraços!

http://tempo-horario.blogspot.com/

. disse...

André Agui.
Fascinante! Gostei do que li por aqui! Gosto como tu nos leva ao mundo. Voltarei pra deglutir mais e mais, minha linda!

Beijão

Úrsula Avner disse...

Oi Bárbara, estou passando para conhecer seu blogger... é fofo ! Obrigada pelo carinho de sua visita e gentil comentário. Volte sempre. Até a qualquer momento.

Júlia Mello disse...

Experiências como essa são realmente edificantes... nunca trabalhei no censo, mas já dei minhas voltas por aí. As 5 convicções que vc tirou sempre se confirmam!

Só acho uma pena que estudos como esse do IBGE sejam tão mal utilizados na hora de fazer alguma coisa de verdade por essas pessoas.

Unknown disse...

Muito legal o seu blog, linda. Vim retribuir a visita. Obrigada.

Joe_Brazuca disse...


Seu blog é encantador !

Demosntra inteligência, carisma, arte e principalente uma sensível verdade !

e...sobre o Brasil, somos um continente intrincado, com povos de todas as matizes, todos os sabores, todas as cores, mas com uma coisa em comum entre eles : o amor à pátria, incondicional, mesmo que existam "tropas de choque" que tentem nos desviar e confundir...O Brasil vencerá, de qq forma, pois os abutres passarão, mas o país seguirá em frente...

O Brasil é um país atípico em todos os sentidos...Tem alma própria e indelével.
Somos todos um...

Excelente matéria e experiência ( tive oportunidade de quando jovem, principalmente, viajar por esta imensidão, entrando por vielas, riachos, igarapós e que tais...Só "queimando o chão", como vc fez, é que se pode saborear este extraordinário país !

um beijo, Barbara !

Joe

Pedro Aruvai disse...

obrigado pelas palavras de elogios no meu blog, adorei! obrigado por divulga-lo aqui no seu, me deixou muito feliz. seu blog tambem está lindo e muito rico de informação. amei! beijão!

KàáH disse...

Tem um selo pra ti no meu blog!
BJuZ

Almirante Águia disse...

Barbara

Quando morei em Salvador participei de um censo, peguei áreas que ninguém desejava, porém havia um bonus e caí para dentro, sofri um choque de realidade, conheci um povo esquecido, eu que pensava ser pobre, terminei o censo adoentado, depressivo, devido o grande flagelo em que encontrei pessoas nos chamados "aglomerados subnormais".

A grande lição é que só se conhece um povo, vivenciando o meio.

Bom trabalho

[Insightfully,Heidi] disse...

gracias por el commentario.,barbara =}

yo entiendo espanol y--mis tias y primos son brasilenos, asi que sabia como hablar un poco de portugues.,i hope to visit soon, one day..

>>Me gusta tu blog tambien y voy a seguir leer mas!

p.s.--your english is fine! =D

Paulinho disse...

Fantastic. Experiências e tanto, hein. Gostei!

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