quarta-feira, 10 de maio de 2023

Livro do Mês: Sendas - Poesia e Didática


Maio chegou e com ele um período conhecido por ser repleto de sentimentos. Maio é o mês das mães, mês das noivas e, como poucos sabem, é o mês dedicado a nossa liberdade de imprensa.

Para celebrar um mês tão especial trouxe um livro igualmente ímpar: Sendas - Poesia e Didática.

De autoria do baiano Celso Alberto da Fonseca, 'Sendas" nos surpreende por três motivos especiais. Primeiro, por ser um livro exclusivamente de sonetos. Segundo por ter um capítulo dedicado aos chamados "versos excêntricos", que por si só já são um belo desfile de estilo e elegância linguística. Terceiro, por ter como capítulo final um fabuloso ensaio didático sobre versificação e métrica poética, dois verdadeiros tesouros da nossa gramática.

Discorrendo sobre os mais variados tópicos que afligem a alma humana, Celso da Fonseca nos presenteia com sonetos sobre coisas como desejo, destino, saudade, medo, tempo, memória, adversidade, vício, ódio, ciúmes, entre outros. Tudo isso faz de "Sendas - Poesia e Didática” a expressão poética da concepção filosófica do autor, da vivência dos seus sentimentos, das certezas e das dúvidas da sua sinceridade intelectual.

Vale também destacarmos as Odes e Loas que o autor escreveu em homenagem a pessoas específicas. São carregadas de sentimento e um toque delicado de nostalgia.

Celso da Fonseca transforma qualquer tema em um poema com uma métrica tão específica quanto os sonetos (poema composto de quatro estrofes, sendo duas de quatro versos e duas de três versos) e, através dessa métrica rimada, é capaz de envolver, emocionar e comunicar sentimentos como amor, dor e lutas tão inerentes ao ser humano.

A poesia de Celso é uma dança entre a forma rígida da métrica imposta pelo soneto e o impulso das emoções vibrantes em cada verso. Isso torna seus poemas únicos e de uma coreografia belíssima. Percebemos a naturalidade com que essa forma escorre pelas mãos do poeta, pois, tendo domínio da formalidade a usa das mais variadas maneiras e a seu bel prazer, quase sem esforço – Ao menos essa é a impressão que tenho. A dança é graciosa, tão delicada quando precisa ser, pesada quando o momento requer, mas sempre fluída.

Separei três sonetos do livro para mostrar a você caro leitor a beleza dos versos dessa obra literária.

O TEMPO E A MEMÓRIA

O tempo é que destrói toda esperança,
Tem asas e trafega para o olvido;
Que apaga de Afrodite o mito e lança,
No esquecimento as flechas de Cupido

A memória resiste e quando alcança,
Manter-se qual um facho refletido,
Faz quem de amor que sofra, e não descansa,
Lutando pra um ficar, nunca esquecido!

Não só no amor, porém, ambas disputam;
São ambas forças, que ferrenhas lutam,
No esquecer ou lembrar, em desigual!

Enquanto o tempo luta com a memória,
Para destruí-la enfim, ela com glória:
Afirma a lucidez universal.

A DÚVIDA

Implantada na mente, e desestabiliza,
Toda ação neuroniana em que se afirma o ser...
Ao fazer oscilar assim nosso querer,
Nossa vontade pois, incompatibiliza!

Vacilação mental, que instável neutraliza,
As pretensões de quem, encontra ao pretender:
Aquele "faço ou não", que sempre faz deter,
E a força do pensar, conturba e penaliza!

É um recuar que impede ao viajor pela estrada;
Estranha hesitação, parece um quase nada,
Mas, a dúvida ao nascer, desequilibra a vida!

Ser ou não ser "do ser", é o eternal dilema;
Sendo alma do inconstante, é seu constante tema...
Pois existe o viver, tão logo se duvida.

DESTINO

Eu vinha pela estrada do destino,
Sorrindo pelo bem que me outorgava
A vida, essa mulher que me brindava,
Com o vinho do viver tão cristalino!

O mundo para mim, sol matutino,
Aquela alegre trilha iluminava,
E só manhãs, manhãs azuis me dava,
Havia sempre luz no orbe divino!

E eu palmilhava assim, leve, contente,
Nos caminhos febris da mocidade
Quando voltei o olhar indiferente,

Para o passado já distante, e vi:
"Um manto me acenando... Era a saudade!"
Desde esse instante eu nunca mais sorri.

Sobre o Autor

Celso Alberto da Fonseca é baiano. Autodidata, dedicou-se à literatura estudou a mitologia greco-romana, os clássicos como Camões, Hesíodo, Xenofonte e Homero, além dos principais autores nacionais e universais. Aprofundou-se principalmente no estudo da poesia clássica parnasiana e petrarquiana, com especial atenção para métrica e prosódia. Um escritor de sonetos por excelência. Além de livros de poemas, também escreveu contos.

P.s. Aproveito esse restinho de texto para agradecer ao meu querido amigo Ruy Tatu, com quem compartilho o gosto pelos versos e poemas, por ter me apresentado a obra de Celso da Fonseca. 

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