sexta-feira, 8 de março de 2024

Madre Thaís: A influência da mulher na Educação em Ilhéus



Para encerrar a nossa semana de homenagem à mulher escolhi uma referência feminina da educação em Ilhéus. Estou falando de Madre Thaís, uma mulher que veio de longe, com grande determinação, para ajudar a escrever, de maneira singular, a história da educação em Ilhéus.

Maria Thaís do Sagrado Coração Paillart veio para o Brasil para ocupar o cargo de Provincial da Ordem das ursulinas no Brasil. Logo que ela chegou da Europa, resolveu que deveria fundar um colégio para meninas. Numa viagem que fez a Salvador, o então bispo de Ilhéus, D. Manoel de Paiva, convenceu-a de que a cidade deveria ser Ilhéus.

Madre Thaís chegou em Ilhéus no ano de 1916, a bordo do vapor Jequitinhonha e, durante sua viagem, teve tempo suficiente para refletir sobre o empreendimento que iria fazer, pois não possuíam nada, nem terreno, nem recursos financeiros.

O colégio para meninas iniciou suas atividades em um endereço da Rua Conselheiro Saraiva, atual Rua Antonio Lavigne de Lemos, nas instalações da diocese.No inicio, o estabelecimento tinha apenas 16 alunas. Naquela época, o casal Adelaide e José das Neves César Brasil havia doado um terreno no alto das Quintas, atual alto da Piedade, para que lá fosse construído o prédio do Palácio Episcopal, que teria como destino a moradia do bispo diocesano. O bispo cedeu parte do terreno para que a freira iniciasse seu empreendimento educacional.



O começo da vida do colégio foi muito precário. Faltava água, luz, e a subida era feita por uma ladeira íngreme, que quando chovia ficava intransitável, mesmo a pé. O projeto do prédio é de Salomão da Silveira, uma referência local em construções, apesar de não ser engenheiro formado. Foi Salomão que esteve à frente do projeto e, em 16 de julho de 1917, o colégio Nossa Senhora da Piedade transferiu-se para sua sede própria. No ano de 1921, o Colégio foi reconhecido como de utilidade pública, no ano seguinte foi equiparado à Escola Normal do Estado.

Para entender o significado e a importância de uma escola deste porte na época em que ela foi concebida e construída, é preciso entender a própria História da Educação nesta região, em particular, e no Brasil como um todo. Estudar não era obrigatório, mulher não precisava ir à escola, e ainda não tinha direito a voto. A escola e, conseqüentemente, o saber, eram para um pequeno grupo de privilegiados que podiam pagar o deslocamento para centros maiores, e possuía família para bancar o longo período de estada nestes centros. Só os ricos estavam aptos, ou alguns poucos obstinados que, mesmo sendo pobres, conseguiam superar todas as dificuldades e conseguiam concluir o curso superior.

O Colégio Nossa Senhora da Piedade significou a possibilidade da chegada do conhecimento às meninas, filhas dos fazendeiros que não permitiriam que jamais suas filhas se deslocassem para Salvador ou Rio de Janeiro, como acontecia com os homens; e para as meninas de famílias pobres que queriam ascender na escala social através do conhecimento intelectual. A obra pode ser realizada porque contou com a participação da sociedade local, fato a que Madre Thaís sempre foi muito grata.

Em 1927, foi iniciada a construção da capela, um belíssimo exemplar da arquitetura neogótica. O construtor Salomão da Silveira fez uma adaptação da planta encomendada, na França, por Madre Thaís, e a obra ficou pronta em 1929. O ponto alto da capela é o seu altar-mor, com a imagem de Nossa Senhora da Piedade, aos pés da cruz, aconchegando ao colo o Cristo morto. A capela possui belos vitrais, que proporcionam uma perfeita iluminação do templo, e retratam as “Sete Dores de Maria”.


Madre Thaís foi uma mulher obstinada em realizar seu sonho de fundar um colégio, que não deixava nada a desejar a qualquer instituição escolar de cidade grande; encontrou em seu caminho, pessoas que a ajudaram bastante para que ela pudesse realizá-lo.

Maria Thaís do Sagrado Coração Paillart foi também uma mulher humilde e desprovida de vaidade, que recebeu do governo francês o título de “Officier d’Academie” pelos serviços prestados à educação em Ilhéus. Madre Thaís faleceu no dia 5 de junho de 1955, aos 67 anos de idade.

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