sexta-feira, 22 de maio de 2009

Você é honesto ou é otário?


Quando li, ou melhor, ouvi a sábia e visionária frase de Rui Barbosa:

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

...Acreditei que era um pouco exagerada.
Mal sabia eu o quanto o Águia de Haia estava certo.
Em tempos que impera a “Lei de Gerson”, ser honesto tornou-se sinônimo de ser otário.
O normal é dar o famoso jeitinho. Andar na linha é coisa pra gente “tan-tan”. Aliás, você sabe de onde surgiu a expressão Lei de Gerson?
Ela é um desses fenômenos da cultura de massa. Tudo começou com um comercial dos Cigarros Vila Rica. Veiculada em 1976 (barbaridade isso faz é tempo...) a propaganda trazia o meio campo Gerson, um dos jogadores de fundamental importância para a conquista da Copa do Mundo de 70, falando sobre as vantagens da dita marca de cigarros. A idéia principal do anúncio era transmitir ao espectador que ele estava sendo uma besta ao fumar outra marca. E tudo começava assim: “É gostoso, suave e não irrita a garganta.” Continua : “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?” E para fechar com chave de ouro, surgi no apagar das luzes a pérola resplandescente: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?” Não bastasse as palavras, a expressão maliciosa do ex-craque dizia tudo. Dá uma conferida aí no vídeo...



Era um momento em que se pensava o nacionalismo em parâmetros bem diferentes. Havia um orgulho verde-amarelo e uma megalomania alimentada pela ditadura. Nesse contexto, um herói nacional como o tricampeão Gerson ( já ia esquecendo da frase final do comercial) solta sua frase mais famosa: "Você gosta de levar vantagem em tudo, certo?" A propaganda não teve uma interpretação pejorativa na época, mas depois virou lei.
Nunca deveria ter virado.
A identidade brasileira não deveria ter sido atrelada ao estereotipo da malandragem, da falta de ética.
O tirar vantagem não se resume apenas a malevolência do brasileiro. Ele criou raízes profundas, que perpassam pela desonestidade, mal caractismo e desonra. O mundo seria outro se as pessoas valorizassem a palavra dada, empenhada. Honrassem verdadeiramente seu próprio eu, antes de reverenciar o que habita no outro. Ser honesto consigo mesmo é o grande desafio. Afinal, para enganar o outro se arquiteta mil e umas traquinagens.
Mas é para enganar a si mesmo, como se faz?
Esta é a verdadeira escaramuça. Algo totalmente impossível de ser realizado. Ninguém consegui si enganar. Por mais que finja ou represente um papel, chegará o dia em que nenhuma máscara será capaz de manter seu faz de conta. Tudo se torna um auto-retrato, em preto e branco. Uma realidade ser cores, brilho ou referencial.
O “jeitinho” permeou todos os campos do convívio humano, tornando-se a hipocrisia, a trivialidade do milênio.
Qualquer um já se deparou com situações e pessoas assim. Gente que fala horas e horas sobre medidas preventivas no combate à dengue, e que em sua própria casa tem pneus velhos exposto no quintal. Ou aquele juiz que condena 10 jovens que dirigiam embriagados e dá “carteirada” para tirar o próprio filho de uma situação exatamente igual.
É isso que o tal jeitinho propaga, dois pesos, duas medidas.
Lições desprovidas de qualquer moral.
Lições que Rui Barbosa já nos transmitia no século passado.

21 comentários:

Anônimo disse...

Olá Barbara!
Rui Barbosa era um homem que representa bem a sua "época". Não que a frase não tenha valor, mas quando conhecemos sua história política aparecem muitos fatos que tb não julgamos muito "honestos".
Abrs.

Guto Dias disse...

Oi Barbara, passei só pra te dizer que a nossa amiga do Blog do Barzinho, Vânia Valerie (pronuncia-se "Valerrí")está postando lá no Hippies & Beatniks.
Abração

Catarina disse...

Menina!!! Para tudo. Onde vc achou este video? Brincadeirinha.Sei que foi no youtube. Muito legal o post.

Cássia Martins disse...

Barbara nso mostra cada coisa. Depois dos perfumes, agora o "Jeitinho". Foi show.

Isac disse...

Cigarro nunca podia dar em boa coisa. Tá vendo só.
Gostei.

X disse...

Poxa não conhecia essa expressão "lei Gerson", muuito bacana mesmo essa postagem!!!
bjus menina

Júlia Mello disse...

Rui Barbosa não é uma boa referência de honestidade, de fato... mas gostei muito desse post. Infelizmente, o "jeitinho" já faz parte da nossa natureza... todo mundo usa, em menor ou maior grau de safadeza.

Bem legal a origem da lei de Gerson, eu não sabia!

Beijos

Mariana S. disse...

Gente, na verdade, tipo assim, não importa muito quem foi Ruy Barbosa. Mesmo ele que fosse um canalha, a frase é muito legal. A intenção do texto também é bem clara, e com certeza não foi enaltecer Ruy.
Parabéns Barbara.

Emanuel disse...

Já tinha ouvido essa coisa de "lei de Gerson" mas, como não era do meu tempo, associei aquele Gerson Brenner. O comercial da margarina alpina, não tinha uma coisa parecida?
Muito bom post.

K disse...

OI MINHA LINDA
VC TEM TODA RAZÃO, AS VEZES AHO QUE O BRASILEIRO SÓ QUER UM PROBLEMA PRA PODER RECLAMAR, PQ NO FIM TUDO ACABA EM PIZZA
FICO TRISTE COM A FALTA DE CONTINUIDADE DO CARATER, FICO TRISTE EM VER QUE AS PESSOAS SÓ FINGEM SE IMPORTAR COM OS PROBLEMAS... COM A IMPUNIDADE
BOM, VAMOS TENTAR FAZER A NOSSA PARTE, VAMOS NÓS AGIR COMO GOSTARÍAMOS
EU ACHO QUE O JEITINHO AS VEZES EXIGE MUITA MENTIRA E ENROLAÇÃO PRA DAR CERTO, GOSTO NÃO...
BEIJOS, SAUDADES

Fernando Andahazi disse...

É esse jeitinho que carimba a gente como trambiqueiros em outros países. Oh vida!

Carlos disse...

Dever ser muito dificil pro Gerson saber que ele foi tipo um "Pai" do jeitinho. Que ironia essa hein?

Thaise disse...

Estava perambulando pela net e encontrei seu blog. Me identifiquei tanto. Adorei.

Mar´lia disse...

Concordo plenamente.
Existe muito bla bla bla mas na hora H a atitude é diferente.

Thi disse...

Realmente...
temos que ter cuidado com nossos atos!
Eles refletem nosso caráter!

Patty disse...

Sinceramente, nem sei o que escrever aqui... tá perfeito.

Moisés Prado disse...

Essa frase de Rui Barbosa despensa comentarios!!
é como se fosse uma "premuniçao" dos dias de hoje, e olha q ela foi dita a tanto tempo atras...
ela soa tao forte assim, por que essa nossa sociedade voraz e deshumana atual é governada para os ricos, fovorecendo sempre o mais forte!

passa la no Diz Ai,
atualizado:

http://moisesprado.blogspot.com/

Moisés Prado disse...

Sempre fui fã dessa frase de Rui Barbosa. Vou ate coloca-la no cabeçalho do meu blog por uns tempos!!

Maria de Fátima - Nosso conto de fadas!! disse...

Minha amiga... depois de ler esse post eu fico penando como educar nossos filhos???... Seria tão mais fácil se as pessoas cobrassem menos resultados "aparentes" e cuidassem mais dos conteúdos... Vc é mãe... sabe do que estou falando...
Bjs... vc é massa!!

Maria MM disse...

Olha, nem sei o que dizer disso tudo. Nunca imaginei que essa coisa de jeitinho tinha uma raiz dessas. Show de bola. Adorei.

Roberto Watanabe disse...

Jeitinho é coisa de gente safada mesmo, Barbara.
Foi muito feliz nesta postagem.
Abraços

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