sábado, 21 de novembro de 2015

Ga-Ga-Ga - Gagueira

Com toda certeza você já encontrou um gago em sua vida. Nem que tenha sido a famosa Gaga de Ilhéus. Brincadeiras à parte, por trás desse lado engraçado esconde-se um dilema, um distúrbio verdadeiro. 

Sem conhecimento, muita gente acaba por propagar a ideia de que a gagueira é um hábito adquirido, um distúrbio emocional, um indício de insegurança, um indício de falta de conhecimento sobre o conteúdo. 

A gagueira é um distúrbio de temporalização da fala, em que sons e sílabas não são finalizados e iniciados no tempo adequado. Ela é involuntária. Isso significa que o gago não tem controle sobre sua fala, não sendo possível simplesmente optar por não gaguejar. Dentre suas causas podemos destacar a hereditariedade e lesões cerebrais. Ainda existe muito folclore sobre as origens da gagueira. Há quem diga que o nascimento de um irmão, sustos, pensar mais rápido do que falar, nervosismo ou ansiedade, insegurança, timidez, baixa auto-estima e estresse também podem causar a gagueira. Estas pessoas estão redondamente enganadas. Nada disso tem fundamentação. 

Os sinais típicos da gagueira são: prolongamentos de sons, repetições de sílabas, bloqueios ("travamentos"), comportamentos de evitação das repetições, dos prolongamentos e dos bloqueios, sem a manifestação audível dessas hesitações, caracterizando um quadro de gagueira encoberta. 

Não raro encontramos aqueles que na tentativa de sair mais rapidamente de situações constrangedoras, recorrem a diversos truques: 

- Substituições de palavras, reformulações de frases e circunlocuções ("rodeios"). 

- Uso excessivo de marcadores discursivos ("então", "assim", "né"). 

- Modificações da respiração (fazer inspirações profundas antes de falar ou falar até o fim do ar). 

- Modificações do tom de voz (falar mais grosso ou falar mais fino). 

O cérebro de uma pessoa que gagueja funciona de forma diferente em comparação com o cérebro de uma pessoa que não gagueja. Existem alterações tanto em nível cortical, quanto em nível subcortical. De maneira geral, essas alterações fazem com que os núcleos da base não produzam pistas temporais internas suficientes para finalizar um som e iniciar o próximo som da palavra. Até que o próximo som não é liberado, o falante permanece no som anterior (prolongando, repetindo ou bloqueando). 

Situações que desautomatizam a fala ou que sincronizam a fala com estímulos externos tendem a melhorar a fluência, tais como: cantar, ler em coro, falar com outro sotaque, sussurrar, representar um personagem, falar em um ambiente barulhento, falar com crianças pequenas, etc. 

Apesar de a gagueira ser um distúrbio de fluência, suas conseqüências vão além da fala. 

A relação com os familiares, o convívio social, o desempenho escolar, o desempenho profissional e a saúde emocional podem ficar muito comprometidos. Por isso, a gagueira é um problema sério e deve ser tratada por um profissional especializado, um fonoaudiólogo. Sempre é possível melhorar da gagueira, não importando a idade do paciente ou a gravidade da gagueira.

*por Karla Barreto Motta - Fonoaudióloga 

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