quinta-feira, 30 de março de 2023

Consumo de alimentos ultraprocessados cresce no Brasil

Hoje, 31 de março, celebramos o Dia Mundial da Nutrição, uma oportunidade para debater e avaliar as práticas nutricionais e a importância de políticas públicas alimentares. No Brasil, o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados representa mais da metade do consumo alimentar da população brasileira (57,9%), conforme aponta estudo divulgado pelos Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. Pessoas negras, indígenas, moradoras das áreas rural e das regiões Norte e Nordeste, assim como grupos com menores níveis de escolaridade e renda, são os maiores consumidores de ultraprocessados.

O primeiro passo para resolver esse problema é entender a diferença entre alimentos minimamente processados, processados e ultraprocessados, conforme categoriza o Guia Alimentar Brasileiro. Em linhas gerais, o que difere os alimentos processados dos ultraprocessados é que estes últimos possuem a quantidade mínima de componentes alimentares. Por exemplo, o milho em casca é um alimento minimamente processado, enquanto o milho enlatado é um alimento processado. Os salgadinhos feitos de milho são um exemplo de alimento ultraprocessado.

Fica claro que alimentos ultraprocessados são aqueles que passaram por maior processamento industrial. No geral, possuem alta adição de açúcares, gorduras, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente, conservantes.

Além de possuir pouca composição nutricional e favorecer o consumo excessivo de calorias, esse tipo de alimento tem efeitos negativos sobre a saúde, se consumidos a longo prazo.

Entre esses efeitos, podemos destacar a obesidade, devido ao consumo excessivo de gordura; problemas nos ossos, como a osteoporose, devido ao uso de corantes e aromatizantes, que mudam a cor e o sabor dos processados; e problemas na flora intestinal, principalmente pela presença de organismos modificados em laboratório.

Esses e outros problemas contribuem para o desequilíbrio do seu organismo, propiciando o aparecimento de diversas doenças.Além disso, a praticidade de consumir alimentos ultraprocessados contribui significativamente para o aumento do consumo, pois as pessoas querem comer com rapidez e facilidade. Refeições e lanches congelados com conservantes, aromatizantes e outros aditivos não são apenas prejudiciais à saúde, mas também podem causas doenças. Apesar da rotina corrida, o consumidor deve ler os rótulos dos alimentos processados e ultraprocessados e escolher produtos com menos ingredientes industrializados, químicos e conservantes.

As consequências do consumo de alimentos ultraprocessados ao longo do tempo podem ser graves, como obesidade, sobrepeso, diabetes e hipertensão. No passado, o Brasil enfrentou um grave problema de desnutrição, mas agora a mudança é em direção à obesidade e problemas de saúde devido aos hábitos alimentares.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), atualmente mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões de pessoas), com prevalência maior no público feminino (62,6%) do que no masculino (57,5%). Já a condição de obesidade atinge 25,9% da população brasileira, alcançando 41,2 milhões de adultos. Mas não são apenas o adultos que são atingidos pelaobesidade, as crianças e adolescentes também são. Em 2020, das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde (APS) do SUS, 15,9% dos menores de 5 anos e 31,7% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso, e dessas, 7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentavam obesidade segundo Índice de Massa Corporal (IMC) para idade. Quanto aos adolescentes acompanhados na APS em 2020, 31,8% e 11,9% apresentavam excesso de peso e obesidade, respectivamente. Considerando todas as crianças brasileiras menores de 10 anos, estima-se que cerca de 6,4 milhões tenham excesso de peso e 3,1 milhões tenham obesidade. E considerando todos os adolescentes brasileiros, estima-se que cerca de 11,0 milhões tenham excesso de peso e 4,1 milhões tenham obesidade. Dados que por si só são alarmantes.

Nesse novo cenário é fundamental conscientizar a população sobre os perigos do consumo de alimentos ultraprocessados e a necessidade de uma alimentação balanceada para prevenir doenças.

Veja alguns exemplos de alimentos ultraprocessados que o brasileiro mais consome cotidianamente:

> Bebidas açucaradas, como sucos de caixa e refrigerantes;
> Salgadinhos;
> Carnes processadas, como salsicha, bacon e hambúrgueres;
> Chocolate;
> Sopas instantâneas;
> Barras de cereal ou cereal matinal;
> Refeições prontas, como lasanhas ou pizzas;
> Shakes para substituir refeições;
> Bolos prontos

É importante substituir esses alimentos por opções in natura ou aqueles que possuem menos processamento, garantindo uma alimentação rica e balanceada em vitaminas e nutrientes. Grãos, tubérculos, frutas, hortaliças, carne, leite e ovos, são alguns exemplos.

Se por um lado o Brasil vem ampliando assustadoramente as suas estatísticas sobre obesidade, por outro vem reduzindo a proporção de desnutrição. O segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 revelou que em relação a prevalência de déficit de peso (desnutrição) em adultos com 18 ou mais anos de idade, a taxa foi de 1,6%, sendo 1,7% para homens e 1,5% para mulheres. O valor ficou bem abaixo do limite de 5% fixado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como indicativo de exposição da população adulta à desnutrição.

Em 2022,o IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - divulgou um estudo que analisou os impactos da ampliação do Auxílio Brasil, programa social de transferência de renda, sobre a extrema pobreza no país, a evolução dos indicadores de insegurança alimentar, e a interação do programa social com o mercado de trabalho. Um dos resultados desse estudo foi a análise de dados da Saúde.

O estudo, intitulado “Expansão do Programa Auxílio Brasil: Uma Reflexão Preliminar”, afirma que os índices de prevalência de desnutrição e insegurança alimentar no Brasil não tem impactado os indicadores de saúde ligados à prevalência da fome: entre 2018 e 2021, o número de internações relacionadas à desnutrição protéico-calórica de graus moderado e leve, à desnutrição protéico-calórica grave, ao atraso do desenvolvimento devido à desnutrição protéico-calórica, à kwashiorkor e ao marasmo nutricional apresentaram queda.

Tudo isso nos leva a uma séria reflexão a cerca da saúde nutricional do brasileiro. Necessário se faz a busca do equilíbrio entre a falta total e o excesso de alimentos. Esperamos que novas políticas públicas surjam, baseadas em fatos e não em narrativas, com o real intuito de sanar de vez as mazelas ligadas à alimentação. A classe política precisa entender que polarizar a fome, usando um problema tão grave como plataforma política, é papel desumano e oportunista.

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