Alunos do 3º ano do curso de Medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) tornaram pública, por meio de uma carta aberta, a situação alarmante de precariedade estrutural e acadêmica que ameaça não apenas a formação dos futuros médicos, mas também a saúde pública da Bahia. A denúncia escancara uma realidade preocupante: faltam professores, estágios e infraestrutura mínima para garantir o funcionamento adequado do curso, que já figurou entre os 10 melhores do Brasil e foi pioneiro no interior baiano.
O documento aponta que disciplinas essenciais como Anatomia, Ginecologia, Pediatria e Obstetrícia estão sem professores devido à aposentadoria, exonerações e à ausência de novos concursos públicos, cuja tramitação está travada na Secretaria da Educação do Estado, em Salvador. A falta de docentes tem deixado turmas inteiras sem aula, comprometendo a qualidade e a continuidade do ensino. Além disso, a perda de parcerias com instituições-chave, como o Hospital de Base e a Santa Casa de Itabuna, restringiu o internato e o ciclo clínico a apenas dois hospitais regionais, insuficientes para atender à demanda dos estudantes. O ambulatório clínico da própria UESC, embora previsto, nunca chegou a funcionar de fato.
A indignação dos estudantes também se volta para a falta de transparência na aplicação dos recursos públicos. O curso de Medicina da UESC recebe milhões em repasses anuais do Governo da Bahia, mas os alunos questionam: onde estão os resultados desse investimento? A verba não tem se traduzido em estrutura adequada, ensino de qualidade nem nas condições mínimas para garantir uma formação digna. "A crise não é apenas nossa. Ela compromete a saúde pública de toda a região, que depende dos médicos formados aqui", afirmam os alunos.
Para chamar a atenção da sociedade e exigir soluções concretas, os estudantes estão convocando uma manifestação pública no dia 24 de julho, quinsta-feira, às 13h, em frente à UESC. O ato pretende reunir estudantes, professores, funcionários e toda a sociedade civil em defesa do curso. “É hora de agir”, diz o texto de convocação. “Vamos defender o futuro da educação e da saúde pública”.
A crise no curso de Medicina da UESC não é apenas um problema universitário — é um reflexo da negligência com a formação de profissionais essenciais ao Sistema Único de Saúde. Diante de um cenário de carência médica no interior do estado, a paralisação do ensino médico representa um retrocesso com efeitos duradouros. A mobilização do dia 24 é, portanto, um grito coletivo por respeito, investimento e responsabilidade com a saúde do povo baiano.
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