terça-feira, 22 de julho de 2025

Crise no curso de Medicina da UESC mobiliza estudantes e expõe falhas graves na formação médica pública no interior da Bahia


Alunos do 3º ano do curso de Medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) tornaram pública, por meio de uma carta aberta, a situação alarmante de precariedade estrutural e acadêmica que ameaça não apenas a formação dos futuros médicos, mas também a saúde pública da Bahia. A denúncia escancara uma realidade preocupante: faltam professores, estágios e infraestrutura mínima para garantir o funcionamento adequado do curso, que já figurou entre os 10 melhores do Brasil e foi pioneiro no interior baiano.


O documento aponta que disciplinas essenciais como Anatomia, Ginecologia, Pediatria e Obstetrícia estão sem professores devido à aposentadoria, exonerações e à ausência de novos concursos públicos, cuja tramitação está travada na Secretaria da Educação do Estado, em Salvador. A falta de docentes tem deixado turmas inteiras sem aula, comprometendo a qualidade e a continuidade do ensino. Além disso, a perda de parcerias com instituições-chave, como o Hospital de Base e a Santa Casa de Itabuna, restringiu o internato e o ciclo clínico a apenas dois hospitais regionais, insuficientes para atender à demanda dos estudantes. O ambulatório clínico da própria UESC, embora previsto, nunca chegou a funcionar de fato.


A indignação dos estudantes também se volta para a falta de transparência na aplicação dos recursos públicos. O curso de Medicina da UESC recebe milhões em repasses anuais do Governo da Bahia, mas os alunos questionam: onde estão os resultados desse investimento? A verba não tem se traduzido em estrutura adequada, ensino de qualidade nem nas condições mínimas para garantir uma formação digna. "A crise não é apenas nossa. Ela compromete a saúde pública de toda a região, que depende dos médicos formados aqui", afirmam os alunos.

Para chamar a atenção da sociedade e exigir soluções concretas, os estudantes estão convocando uma manifestação pública no dia 24 de julho, quinsta-feira, às 13h, em frente à UESC. O ato pretende reunir estudantes, professores, funcionários e toda a sociedade civil em defesa do curso. “É hora de agir”, diz o texto de convocação. “Vamos defender o futuro da educação e da saúde pública”.

A crise no curso de Medicina da UESC não é apenas um problema universitário — é um reflexo da negligência com a formação de profissionais essenciais ao Sistema Único de Saúde. Diante de um cenário de carência médica no interior do estado, a paralisação do ensino médico representa um retrocesso com efeitos duradouros. A mobilização do dia 24 é, portanto, um grito coletivo por respeito, investimento e responsabilidade com a saúde do povo baiano.

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