terça-feira, 25 de abril de 2017

2 mil reais

Não sentei para escrever mais um texto sobre a violência, a criminalidade ou as mazelas da nossa sociedade.

Não, não é necessário.

Também não preciso falar sobre a hipocrisia das instituições que se dizem defensoras dos Direitos Humanos apoiando sempre a bandidagem, a vagabundagem e o crime organizado.
Vim aqui falar sobre o valor de uma vida.
Será mesmo que a vida é algo que se pode valorar?
Será que um ser humano pode ser precificado?
Soldado PM Tyrone
Thomaz de Aquino
No domingo passado, Ilhéus acordou em choque com a morte do Soldado PM Tyrone Thomaz de Aquino, um profissional exemplar, um cidadão do bem, uma pessoa muito querida por todos que tiveram a chance de conhecê-lo. Morto de forma covarde e vil, ele estava em uma lanchonete quando foi assassinado por marginais. 
A morte de Tyrone expõem uma ferida aberta, um problema enfrentado por todos os que desempenham a função policial: o risco de morte.
Diferentemente de todas as outras profissões, o desempenho da função policial não acaba quando se finda um plantão, conclui-se uma diligência ou termina-se uma ronda. Ser policial é algo que se carrega consigo, onde quer que se vá. É algo que adere à pele, gruda-se à alma e passa a ser indissociável. Aqueles que defendem a sociedade são marcados a ferro e fogo. Ao desempenhar com eficiência sua função e prender um marginal, um estuprador, um ladrão, um sequestrador, um traficante, o policial pode estar assinando a sua sentença de morte. Foi exatamente isso que aconteceu com Tyrone. Ele morreu por ser um bom policial, por ser um profissional que levava a sério o seu dever.
E o que ele ganhou sendo um profissional digno? 
Qual o reconhecimento ou agradecimento que recebeu por desempenhar corretamente a sua função? 
Infelizmente, vivemos em uma sociedade onde aqueles que doam suas vidas em prol de todos só são reconhecidos e homenageados quando estão mortos.
Os hipócritas defensores da bandidagem, aqueles que se dizem justos e corretos, alegam sempre que policiais são trabalhadores como outros quaisquer, que não defendem a sociedade de graça, que recebem salários para isso, como se qualquer um tivesse coragem de arriscar sua vida ao desempenhar uma atividade laboral. E assim vamos vendo geração após geração crescer e propagar essa falta de reconhecimento e gratidão para com aqueles que são a linha de frente da defesa da sociedade contra o mal e a barbárie total.
Tyrone foi morto a mando do chefe de uma facção criminosa, um bandido que de dentro das paredes de um presídio, ordenou a execução do policial, colocando sua cabeça a prêmio por 2 mil reais.
Isso mesmo!
2 mil reais!
Será que a vida vale apenas isso?
Será que esta é a retribuição por empenhar sua vida em defesa do próximo?
Enquanto todos dormem, policiais adentram lugares inimagináveis, matagais intransponíveis, bueiros fétidos, casas abandonadas...
Enquanto todos dormem, eles estão em alerta máximo, tentando defender pessoas que nunca viram e nem mesmo conhecem...
Enquanto todos dormem no aconchego de suas casas, debaixo dos cobertores, eles estão nas ruas, debaixo da forte chuva, com frio e cansados, madrugadas adentro...
Enquanto todos dormem, eles, mesmo não tendo super poderes, estão prontos para enfrentar o perigo, para desafiar a morte e, quiçá, sobreviverem...
Enquanto todos dormem, eles estão divididos entre o medo da morte e a árdua missão de fazer segurança pública;
Enquanto todos dormem, eles sonham acordados com um futuro melhor, com o devido respeito, com um justo salário, com dias de paz, mas principalmente com o momento de voltarem para casa e de olharem suas esposas, seus filhos e dizer-lhes que foi difícil sobreviver à noite anterior, que foi cansativo e até frustrante, mas que estão de volta e que tem por eles o maior amor do mundo.
Tyrone não voltará para casa, não abraçará seus familiares, não se sentará num barzinho com seus amigos, não mais vestirá seu uniforme em defesa da sociedade. Agora ele será apenas mais um dígito nos índices de criminalidade, mais uma vítima da violência. Seus algozes serão defendidos, protegidos e amparados por instituições que se dizem promotoras da justiça e garantidoras da igualdade e dos direitos. 
Triste é saber que vivemos em um mundo onde a luta pelo bem é uma batalha praticamente perdida.


*** Dedico este texto a todos os policiais, guerreiros anônimos, que deixam suas casas, famílias, amigos e sonhos, encarando a morte no combate à criminalidade, garantindo assim a ordem pública e zelando pela nossa segurança, mesmo que isso custe suas próprias vidas!




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